Covid 19. O tema do momento e o medo que nos inunda.
Confesso que comecei por tentar levar este assunto de forma leve, tentava não dar grande importância e acreditar que não seria tão grave quanto na realidade o era. Como sabem, sou educadora e é mais do que necessário não entrar em pânico sobretudo no nosso meio profissional.
Contudo, com o passar do tempo fui-me apercebendo que este maldito vírus teria demasiadas consequenciais para além das questões de saúde publica. Para mim, e embora já se fizesse esperar que as escolas fossem fechar foi tudo tão de repente que quando caí em mim caí num precipício de ansiedade. Esta M*** deste vírus conseguiu parar um país inteiro, conseguiu fechar escolas, restaurantes, desmarcar consultas, deixar milhares desempregados e num desespero sem saber o que fazer. Vieram medidas atrás de medidas, nova legislação, estado de emergência e a minha cabeça sempre num turbilhão de sentimentos e emoções. Todos os dias achava que era um pesadelo, todos os dias queria acreditar que ia poder sair com a minha filha e marido. Todos os dias achava que tudo iria ser normal no dia seguinte. Nada aconteceu... O maldito vírus cá continua e eu comecei a ficar obcecada. Lavagem de mãos, desinfecção, retirar sapatos no caso de termos de sair, chegar a casa colocar toda a roupa na maquina e ir para o banho. O meu coração acelera de cada vez que tenho de sair. Felizmente, não tem sido necessário sair muitas vezes.
A determinada altura, comecei a sentir dores horríveis no corpo, custava a respirar, sentia-me cansada.. Pensei...f**** bateu-me à porta. Toca de tomar uns ben-u-ron e vamos ver se melhora. Melhorava e depois voltava. Comecei no entanto, a perceber que no fim de contas era a minha cabeça a alertar-me através do meu corpo para o facto de me estar a ir a baixo.
O medo e a SAUDADE (esta palavra tão nossa) estava a consumir-me.
Como sabem, fiz no dia 15 de Março 32 anos e pela segunda vez nestes 32 anos, não tive o abraço da minha família, não tive o beijo... Custou-me muito... senti-me vazia (toda eu sou de mimos e afectos).
Passaram-se 3 longas semanas. Depois destes dias mais complicados, decidi dedicar-me às rotinas da baby que não são nada fáceis de manter.
Tento fazer uma actividade todos os dias, mantê-la longe da tv pelo menos de manhã mas, não é fácil, não é nada fácil mesmo. Como explicar a uma bebé que não podemos ir à rua, que agora só vê a família por video-chamada, que não vamos à escola ou ao parque, que tudo mudou?
No meio de todo este turbilhão, olhei para o lado positivo de tudo isto. Ver crescer o meu anjinho a cada hora que passa.
Neste momento contamos 11 dentinhos, quase 11kg de peso, 14 meses do mais puro amor de sempre e... ela já anda. E já anda tão mas tão bem. Diz pai, mamã, mãe, daddy, gato (tato), olá, manda e dá beijinhos repenicados (mas só quando quer), diz adeus com a mãozinha, diz já tá, pede colo esticando os braços, chama-nos abrindo e fechando a mão e a sua comida preferida é MASSA.
Pensado bem... Vamos lá então tentar levar esta porcaria de isolamento da forma mais leve que nos for possível.
Claro, que as saudades não passam, pelo contrario só aumentam. Tenho saudades dos meus, daqueles que amo. Tenho saudades dos meus meninos/as, tenho saudades de toda a minha liberdade. Mas, agora, aprendi a dar valor ao que tenho, aos que tenho e ao que quero ter sempre por perto. Aprendi que não podemos deixar para amanhã sobretudo aquilo que queremos dizer hoje. Já me comprometi em algumas coisas... Não deixar de estar com quem gosto durante muito tempo é um dos compromissos.
São 23 dias de isolamento, saímos apenas para ir às compras ou para apanhar um bocadinho de ar na rua (senão a miúda enlouquece e nós também). Espero que quando tudo isto terminar, o Mundo se tenho tornado um pouco melhor, espero sinceramente, que não nos esqueçamos novamente dos profissionais de saúde que agora tanto elogiamos, e espero que não nos esqueçamos das saudades que sentimos daqueles que tanto gostamos.
Aqui por casa vamos continuar a aproveitar cada segundo. Vamos observar, vamos aprender, vamos cantar (muito), brincar, ver filmes, namorar. Não é fácil, não será fácil mas talvez seja o momento de descomplicar e pensar que mais uma vez o que tiver de ser será mas nunca por facilitismos.
Beijinhos