Hoje trago-vos um desabafo sobre um tema pessoal, íntimo. Falo-vos da pressão para engravidar e no quão esta pode ser inconveniente e nociva para quem a sente.
Antes de perguntarem a qualquer mulher o porquê de não ter engravidado, questionem-se em relação às condições emocionais, financeiras e psicológicas da pessoa questionada. Hoje em dia e graças à crescente emancipação da mulher, estas acabam por deixar a maternidade para mais tarde. Eu sou uma dessas mulheres, que tem vindo a adiar a ideia não apenas por questões profissionais, como também físicas, emocionais e psicológicas. A verdade é que tenho enfrentado alguns dissabores: após duas cirurgias ao peito e uma ao útero, engravidei...quando tudo indicava que teria dificuldades para tal. Fiquei gravida e, perante a incredibilidade e a felicidade, descobri que se tratava de uma gravidez ectópica. Como devem calcular fui obrigada a passar pela terrível experiência de perder um filho, facto que, até hoje, não consegui ultrapassar.
Quando as pessoas nos questionam, usam frases feitas como: “Olha que te vais arrepender!”; Já está na altura! Vais adorar ser mãe!”; até já ouvi “Estás a ser egoísta!”, etc.
Vou-me arrepender porquê? Sei que tenho problemas de saúde que poderão dificultar-me a possibilidade de engravidar, mas a verdade é que depois da cirurgia ao útero, contra todas as expectativas médicas, engravidei.
Já está na altura? Porquê? Aos 28 anos já se é velha? Ou irei arrepender-me de não ter um filho para cuidar de mim quando estiver velhota? Se é isso, porque são raros os filhos que o fazem?
Será que sou mesmo egoísta ao assumir que não tenho condições para criar uma criança e que o gostar não é suficiente.
Gente !!! Estão a tornar-se demasiado previsíveis! Começam pelo clássico “Então quando te casas?” e depois do casamento, sempre que olham para nós parece que o nosso único dever é engravidar. Antes de abordar um assunto desta natureza, íntima, deverão avaliar e ter bom senso porque poderão estar a tocar no assunto que causa imensa infelicidade à questionada. Por favor, tentem antes de fazer a pergunta “Então! Para quando um bebé?” ou algo assim do género, ter a noção de que, pelo mundo for,a existem muitos casais que se debatem diariamente com grandes dificuldades financeiras, problemas de infertilidade ou que, simplesmente, não querem ter filhos e isso tem de ser respeitado.
Pode acontecer a questionada estar nos primeiros meses de gravidez e, por isso, quando confrontada ficar constrangida, por não querer anunciar, por ainda ser algo só seu.
Por algum tempo, eu fui uma destas mulheres, primeiro grávida e depois na fase do aborto. Não quis falar sobre o assunto, não queria que se soubesse, era um momento meu e do meu marido, que nem toda a gente soube respeitar. Nem toda a gente entendeu a minha escolha, o facto de querer esconder. Perder um bebé, sobretudo quando desejado, é sempre algo doloroso. Faz este mês três anos e não esqueço.
Por tudo isto e, certamente, mais: STOP! Parem de questionar! Por mais que desejem ver alguém que lhes é querido grávida não se esqueçam da velha máxima: o que tiver de acontecer acontecerá!